O Reino Unido criou um ministério para lidar com o que a primeira-ministra Theresa May chamou "triste realidade moderna". Sim, um ministério da solidão.

"No ano passado, uma comissão britânica descobriu que quase nove milhões de pessoas no país, muitas vezes, ou sempre, se sentem sozinhas - uma condição que pode ter sérias repercussões para a população" e para o futuro do pais.

O sentimento de solidão não tem a ver com o fato de estar ou não sozinho, mas com a falta de se sentir bem consigo mesmo e não encontrar nos outros o que tanto precisa. As vezes um espelho humano; uma pessoa com a qual trocar experiências reais e achar um sentimento de normalidade; outras vezes uma pessoa que nos de um forte abraço.

O problema é que o mundo quebrou-se em bilhões de mundinhos que disputam entre si por seus territórios, o individualismo aumenta e todos querem viver o novo modelo de sucesso que o futuro promete. Uma enorme pressão social emerge do sucesso alheio incentivando a sermos iguais. Isso, sem entender que por detrás de muitas fotos postadas, há pessoas com mascaras que escondem quem são, seus sentimentos, feridas e dores.

O mais incrível é que vivemos uma época em que o medo guia a vida das pessoas; medo da morte, medo da vida; medo de ser e de não ser; medo do medo, da violência, da diferença e da indiferença, da verdade, da honestidade, do amor, dos outros e da solidão. Uma época onde impera a tristeza com ataques de pânico e de violência, auto-infringida e social. 

Por esse motivo é que a tristeza pelo isolamento social já não é algo característico da velhice, tem muita gente jovem e de todas as idades que sentem-se sozinhas, pessoas que estão tão preocupadas em se mostrar bem e agradar que terminam se perdendo de si mesmas, que vivem tantas mentiras que perdem a noção da realidade e deixam de viver experiências muito legais por considera-las pequenas em relação aos parâmetros construídos pelas redes. Pessoas que chegam a perder tudo por causa de sonhos pertencentes a outros céus.

Quem sabe por esse mesmo motivo é que se considera o isolamento social como um primeiro sinal de possível depressão, uma doença que hoje já afeta 322 milhões de pessoas no mundo, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2017 referentes a 2015. Em 10 anos, de 2005 a 2015, esse número cresceu 18,4%. A prevalência do transtorno na população mundial é de 4,4%.

Muitos pensadores falam de uma crise da essência e da existência do ser moderno como o centro do qual derivam outras crises mais visíveis ou reconhecidas, como a crise socioambiental ou até a depressão. 

Necessitamos entender que a educação não pode limitar-se a um treinamento técnico, que somos humanos e temos necessidades humanas, o fato é que o afeto e os sentimentos em geral são os combustíveis do ser humano na sua eterna busca de sentido e significado.