Entendo que o verdadeiro desafio na educação não são as tecnologias mas o desenvolvimento de modelos pedagógicos que mudem o modelo tradicional de ensino e aprendizagem e gerem novas dinâmicas para alcançar novos resultados de aprendizagem.
A UNESCO, desde 2005, vem alertando sobre o determinismo tecnológico na educação:
“esta forte concepção tecnológica é acompanhada de uma escassa reflexão acerca das metodologias utilizadas. Desta forma, está se reproduzindo o modelo de ensino tradicional utilizando-se novas tecnologias de informação e comunicação”
Nesse paradigma, a tecnologia deixou de ser um “meio” para se tornar um fim em si mesma. Numerosos pesquisadores tem alertado que o problema se situa na mera aquisição de tecnologias para o simples repasse de conteúdos por um meio diferente, sem alterar a forma de relacionamento com o aluno, com o conhecimento e com a sociedade.
Na educação a distância, por exemplo, as ferramentas tecnológicas passaram a ser a finalidade, sendo esquecidas muitas vezes as dimensões educativas (pedagógicas, didáticas, culturais) e as comunicacionais (linguagem, metalinguagem, mídias, códigos), bem como os sujeitos educativos (características e necessidades das pessoas). Entende-se que, com um designer gráfico, com um conteúdo e com uma boa ferramenta tecnológica, o ensino a distância está resolvido.
Raramente, as propostas de trabalho pedagógico que exploram as novas tecnologias superam o modelo tradicional do ensino. Coloca-se em um sistema avançado de comunicação a forma tradicional do professor ministrar aulas expositivas. A diferença se limita ao veículo de mediação.
Na sociedade das novas tecnologias, confunde-se informação com conhecimento, e continua se perpetuando, agora com tecnologia de vanguarda, o modelo enciclopedista do Iluminismo francês. Os cidadãos, paradoxalmente, estão cada vez mais informados, mas cada vez com maior dificuldade para expressar um ponto de vista sobre a informação recebida.
Não estou criticando as tecnologias, mas sim o uso que é feito delas. As novas tecnologias, quando bem aplicadas ao ensino, podem oferecer importantes avanços: têm potencial para ativar a participação do receptor das mensagens nos processos instrutivos; reduzir o nível de abstração dos novos conhecimentos; facilitar a memorização conceitual e a aplicação do que foi aprendido na resolução de problemas reais ou simulados, entre outros. Mas é preciso ter em conta que o uso das novas tecnologias de comunicação e informação não são um recurso inapelavelmente eficaz para a aprendizagem.
Torna-se, portanto, necessário integrar as novas tecnologias em programas educativos bem fundamentados, fazendo uso pedagógico destas ferramentas. Afinal, são as metas, os objetivos, os conteúdos e as metodologias que permitem dar um sentido educativo aos programas baseados em tecnologias, e não o contrário, como, via de regra, observa-se na maioria das experiências analisadas.
Sem duvida alguma a tecnologia pode nos ajudar a enfrentar este mundo global e complexo mas sem mudar os processos, sem mudar as visões da realidade não vejo possibilidade nenhuma de mudanças.
É necessário repensar o modelo educativo como um todo, questionando as coisas que são dadas como certas, como o modelo conteudista que, chama por revisão. Os alunos deste futuro necessitam muito mais do que informações e técnicas repetitivas. Há necessidade de desenvolver estilos de pensamento meta-cognitivos, complexos, abertos às incertezas e às mudanças constantes, para dar conta de um mundo em constante transformação.
Necessitam aprender a aprender, e aprender a pensar. Para isso, a educação deverá avançar para além da dimensão do conteúdo focado nas diversas disciplinas, enquanto objeto de estudo, e abordar a dimensão pedagógica do processo de ensino.
Por isso acredito que o grande desafio está em conceber uma proposta didático-pedagógica que se apóie nos meios tecnológicos e os transcenda, superando as visões dos tecnólogos educativos.
(Artigo publicado originalmente em 10 de julho de 2016 no Linkedin)