
T&D360 Live - Ep 4
A IA está destruindo o seu cérebro?
Ou a sua capacidade de pensar?

Gustavo Brito
·
18 de jul. de 2025




"A inteligência artificial está destruindo o seu cérebro?" Essa pergunta, que mais parece título de filme de terror B, tem pipocado por aí com uma velocidade assustadora. E, sejamos francos, a indústria da notícia adora um drama, um bom clickbait. Mas será que a IA é realmente um monstro comedor de cérebros, ou estamos apenas diante de mais um caso de telefone sem fio, onde a verdade se perde no eco das manchetes sensacionalistas?
Recentemente, uma pesquisa do MIT Media Lab, conduzida pela Nataliya Kosmyna, virou o centro de uma tempestade midiática. De repente, jornais e redes sociais estavam repletos de afirmações categóricas: "IA está drenando o seu cérebro", "ChatGPT te deixa mais burro", "usuários do ChatGPT têm menor nível de engajamento cerebral". Termos como "brain rot" (apodrecimento do cérebro) começaram a circular, gerando pânico e desinformação. O problema? A própria pesquisadora teve que vir a público, em entrevista à Time Magazine, para desmentir o circo que se formou em torno de seu trabalho. Ela não disse nada disso. Mas, como sempre, a nuance se perdeu na busca por manchetes impactantes.
É preocupante ver como, mesmo no meio acadêmico, a capacidade de pensamento crítico parece estar em xeque. Acadêmicos de renome replicaram essas manchetes sem questionar, para depois, envergonhados, tentarem amenizar o estrago. Isso nos leva a uma reflexão crucial: em um mundo onde a informação é abundante e a velocidade de propagação é vertiginosa, a habilidade de questionar, de pensar por si mesmo, de discernir o que é fato do que é folclore, nunca foi tão vital. E, ironicamente, é exatamente isso que a IA, quando bem utilizada, pode nos ajudar a aprimorar.
A Pesquisa do MIT: O Copo Meio Cheio (e o Meio Vazio que Virou Manchete)
A pesquisa da Nataliya Kosmyna, apesar de suas limitações reconhecidas pela própria autora (amostragem pequena e homogênea, caráter incipiente), trouxe insights valiosos que foram soterrados pelo barulho. O estudo envolveu 54 participantes, entre 18 e 39 anos, que deveriam escrever ensaios acadêmicos em várias rodadas, utilizando diferentes ferramentas: ChatGPT, Google Search ou apenas o cérebro. O rodízio entre os grupos permitiu observações interessantes.
O ponto mais promissor, e o menos divulgado, é o que chamamos de "copo meio cheio". A pesquisa revelou que pessoas que inicialmente usavam apenas o cérebro e depois passaram a incorporar o ChatGPT em seu processo de escrita apresentaram uma performance e ativação cerebral significativamente melhores. Por quê? Porque elas já haviam exercitado o pensamento crítico, a criação de esquemas de conhecimento. Elas usaram a IA como uma ferramenta para potencializar seu trabalho, não para terceirizá-lo. Como a própria Cosmina disse em sua entrevista, a ideia é "pensar antes, buscar depois". Isso é super promissor, mas, claro, não vende jornal.
O que virou manchete, o "copo meio vazio", foi o resultado do grupo que usou o ChatGPT de cara, sem um processo prévio de reflexão e construção de conhecimento. O que se observou? Baixíssima qualidade do resultado, visão estreita, repeteco de palavras e conceitos, e um resultado raso e pasteurizado. É a famosa "pastelaria do GPT", onde todos os textos são mais ou menos iguais, sem personalidade, sem alma. Isso não é novidade. Há décadas, a ciência da aprendizagem nos mostra que o consumo passivo de informação, sem engajamento cognitivo, leva a um baixo nível de construção de conhecimento e pouca ativação de processos cerebrais. É mais velho que a paixão de Cristo, como diria meu parceiro. Mas, para a indústria da notícia, é um prato cheio para o sensacionalismo.
A Cultura do Atalho e o Paradoxo da Informação
Vivemos na era do paradoxo. Temos acesso a mais informação do que nunca, mas nossa capacidade de processá-la criticamente parece estar em declínio. A "cultura do atalho" se enraizou. Queremos o resultado sem o processo, o diploma sem a aprendizagem, o conhecimento em 12 minutos. É a máxima expressão da terceirização da vida, onde a IA se torna o sonho dos "atalhistas".
Mas, como bem pontuou o Danhylo em nossa live, a IA não nivela por baixo, ela ergue a régua. Para usá-la bem, você precisa de pensamento crítico, repertório e, acima de tudo, a capacidade de fazer as perguntas certas e, mais importante ainda, de interpretar as respostas. Se você não sabe do assunto, é melhor não perguntar. Porque a IA exige mais, não menos, de quem a utiliza. Copiar e colar sem ler, sem questionar, é queimar o filme. É apostar em uma roleta russa onde a chance de erro é de quase 50%.
O problema não é a IA em si, mas a nossa relação com o conhecimento e a aprendizagem. Nosso sistema educacional, focado em respostas e não em perguntas, em conteúdo e não em processo, responde a um mundo que já não existe. A educação corporativa, por sua vez, concentrou-se no controle (LMS) e na experiência (LXP), mas esqueceu da aprendizagem autêntica, da fricção necessária para a construção de esquemas mentais. Consumir conteúdo não é aprender. É apenas acumular repertório. Aprender é transformar-se através da ação e da reflexão, é um exercício, um atrito entre a nova informação e seus esquemas mentais.
O Futuro do Trabalho e a Reinvenção da Educação
O futuro do trabalho não é um mistério, é uma realidade que exige ação imediata. A IA veio para ficar e transformar a sociedade, e também o usuário. Mas essa transformação não é unilateral. O usuário também transforma a tecnologia. A questão é: como vamos nos posicionar diante dessa nova realidade? Vamos continuar reproduzindo modelos falidos ou vamos reinventar a maneira como aprendemos, ensinamos e avaliamos?
É preciso inverter uma lógica cultural que nos levou a perguntar antes e pensar depois. A informação, hoje, não tem mais o papel de reduzir o risco da tomada de decisão. Ao contrário, ela muitas vezes confunde, é contraditória, perecível e depende do contexto. Cultivar nosso cérebro, desenvolver pensamento crítico, resiliência e antifragilidade, leva tempo. Não é um curso de 12 minutos que vai nos transformar em pensadores.
Para os educadores, o recado é claro: reinventem-se. Mudem seus processos, suas avaliações. Coloquem o foco no processo cognitivo, nos processos intra e interpessoais do ser humano. A IA pode ser uma mediadora cognitiva poderosa, não uma respondedora. Ela não te entrega respostas prontas, mas reflexões, pontos chave, elementos para que você construa seu próprio conhecimento com esforço e pensamento.
Não há atalhos para a aprendizagem autêntica. A IA é o sonho dos inventores de "pontes de papel", dos que buscam o resultado sem o processo. Mas a verdade é que o resultado depende do processo. Se o processo é ativo, crítico e reflexivo, o conhecimento será de melhor qualidade, mais aplicável e, no final, você se tornará um indivíduo mais inteligente. E isso, meu amigo, não tem preço.
———
Este artigo foi gerado a partir da conversa entre Gustavo Brito e Daniel Luzzi, na live Cognita T&D360 Live - Ep 4: IA está destruindo o seu cérebro? em 17 de jul. de 2025.
Confira o papo na íntegra:
linkedin.com
Cognita T&D360 Live - Ep4: IA está destruindo o seu cérebro?

Vamos agendar uma conversa?
Conte-nos sobre seu desafio e entraremos em contato o mais breve possível.
Vamos agendar uma conversa?
Conte-nos sobre seu desafio e entraremos em contato o mais breve possível.
Vamos agendar uma conversa?
Conte-nos sobre seu desafio e entraremos em contato o mais breve possível.
Vamos agendar uma conversa?
Conte-nos sobre seu desafio e entraremos em contato o mais breve possível.
@ Cognita Learning Lab 2025
@ Cognita Learning Lab 2025
@ Cognita Learning Lab 2025