T&D360 News - Ed 5

Folclores de T&D

Há que entrar ciência onde hoje reinam mitos.

Gustavo Brito

·

7 de jul. de 2025

TRENDS

Há por aí (nos corredores de grandes eventos de RH e Educação Corporativa) um zumzumzum sobre uma nova forma de "destravar" o 70-20-10: aprendizagem incidental. Como muitos devem saber, aprendizagem incidental não é algo novo...não passa do que as ciências da educação chamam, desde sempre, de aprendizagem informal. Aprendizagem informal é, de fato, uma das maneiras de se aprender coisas. Agora, "destravar" algo inventado, aí já foi longe demais.

Como já havia publicado no passado, 70-20-10 é um dos maiores FAKES que transitam, sem ser notado, pelo mundo da educação corporativa. A origem do famoso modelo? Um livro que jamais o mencionou. Busque em "Lessons in Experience" e encontrará… absolutamente nada.

O que existe, na verdade, é uma modesta pesquisa com 191 executivos cujas respostas foram convenientemente arredondadas para números mais "marketáveis". Voilà: uma receita de bolo para o sucesso executivo estava nascendo, mesmo sem o consentimento de seus supostos criadores. Alan Tough, outro suposto padrinho intelectual do modelo, apenas observou que adultos aprendem fora das instituições formais. Revolucionário, não? Quase tão revolucionário quanto notar que peixes vivem na água.

Até especialistas renomados como Will Talheimer da Universidade de Columbia e as pesquisadoras Kajewski e Madsen tentaram alertar o mundo corporativo sobre essa fantasia numérica. Mas quem precisa de evidências científicas quando se tem um modelo tão elegantemente simples?

O verdadeiro mérito do 70-20-10? Convencer equipes de T&D a equilibrarem iniciativas formais e informais de aprendizagem. Um objetivo nobre, sem dúvida, mas alcançado através de uma pequena… digamos… "licença poética estatística". Ou pode chamar de mentirinha.

STORYTELLERS

Em novembro de 2017, o https://debunker.club/ promoveu um evento chamado The Grand 70-20-10 debate. Durante o amplo debate, que contou com a representatividade internacional de diversos profissionais da área de Aprendizagem e Desenvolvimento, foram levantados diversos pontos negativos e críticas ao modelo 70:20:10. E isso não me surpreende em absolutamente nada.

Vejam, o que temos aqui é um clássico exemplo de monocultura educacional sendo questionada. Muitos participantes destacaram que os percentuais apresentados tendem a ser mal interpretados, sendo frequentemente vistos como regras rígidas e literais, o que pode causar confusão. Isso levou a discussões sobre os riscos potenciais de simplificação excessiva e de uso inadequado do modelo como um guia absoluto para a metodologia de educação corporativa.

E não é para menos! A assistematicidade educacional que impera em muitas organizações acaba encontrando nesse tipo de modelo uma falsa sensação de ordem, de método. Como se bastasse distribuir oportunidades de aprendizagem em três baldes para que, magicamente, a aprendizagem contínua brotasse nos canteiros da sua empresa.

Houve preocupações de que o modelo poderia levar a uma imprudente redução nos orçamentos para treinamentos formais, devido à percepção potencialmente distorcida de que o treinamento não é efetivo. E aqui está um ponto nevrálgico! É como se dissessem aos profissionais de educação corporativa (que chamo carinhosamente de horticultores): "não se preocupe tanto com as sementes e com a irrigação; as plantas crescem sozinhas mesmo". Uma falácia que desconsidera por completo o valor da perícia, da diversidade e da convivialidade em ecossistemas de aprendizagem.

Além disso, alguns participantes mencionaram que a separação do modelo em "tipos" distintos de aprendizagem pode ignorar as interdependências entre formas diferentes de aprender, reduzindo assim a eficácia do desenvolvimento organizacional. Isso é profundamente verdadeiro! Não podemos tratar a educação corporativa como blocos isolados que não se comunicam. Um ecossistema de aprendizagem saudável pressupõe justamente a interação fluida entre pessoas, oportunidades e objetos técnicos.

Outra crítica significativa foi a falta de embasamento empírico robusto para justificar as porcentagens propostas. Muitos especialistas ressaltaram que as origens do modelo estão mais nas percepções subjetivas de líderes empresariais do que em pesquisas científicas estruturadas, o que levanta dúvidas sobre sua validade. E aqui temos um caso clássico de como a educação corporativa muitas vezes se constrói com base em "achismos" e não em ciência da aprendizagem!

Em última análise, o debate destacou que o modelo pode ser útil dentro de um contexto específico, mas precisa ser aplicado com cautela e compreensão do seu contexto organizacional, oferecendo uma chamada para a evolução das práticas e metodologias no campo do aprendizado corporativo.

Eu acrescentaria que precisamos ultrapassar a mentalidade de subsistema e cultivar verdadeiros ecossistemas de aprendizagem. Não é sobre distribuir percentuais em tipos separados; é sobre integrar, conectar e criar um campo social onde a inteligência - aquela força que maximiza alternativas de futuro para o máximo de pessoas - possa prosperar.

AI & TECH

Outro folclore que perambula pelo imaginário coletivo quando o assunto é educação corporativa é a crença na tecnologia como ferramenta de engajamento. Não são poucos as histórias de empresas que investem muita grana em plataformas caríssimas de LMS e LXP, acreditando que um "netflix da educação" é o suficiente para engajar seus colaboradores.

Quando vejo organizações apostando todas suas fichas em plataformas tipo "Netflix da Educação" como solução mágica para engajamento em aprendizagem, não posso deixar de questionar: estamos realmente entendendo o que motiva as pessoas a aprender?

Daniel Pink já demonstrou claramente que a verdadeira motivação humana não vem de sistemas de recompensas simples ou acesso abundante a recursos. O que realmente nos move são três elementos fundamentais: autonomia, maestria e propósito.

As plataformas de conteúdo ilimitado falham justamente por não endereçarem adequadamente esses pilares. Oferecer milhares de cursos não garante autonomia real - pelo contrário, pode provocar paralisia pela sobrecarga de opções. A maestria exige prática deliberada, feedback e aplicação, não apenas consumo passivo de vídeos. E quanto ao propósito? Este raramente é construído pela simples disponibilização de conteúdos desconectados da realidade e dos desafios específicos da organização.

O engajamento genuíno em aprendizagem contínua nasce quando criamos ambientes que nutrem essas três necessidades fundamentais. Isso significa desenhar jornadas de desenvolvimento com escolhas significativas (não apenas infinitas), oportunidades concretas para aplicação e crescimento em competências relevantes, e conexão clara entre o desenvolvimento individual e um propósito maior que transcende o simples cumprimento de metas de treinamento.

Não estou dizendo que devemos abandonar as plataformas digitais, mas precisamos parar de confundir ferramentas com estratégias. A tecnologia só amplifica a intenção educacional subjacente - se esta for rasa, nenhum algoritmo de recomendação salvará sua cultura de aprendizagem.

Em vez de buscar a próxima solução tecnológica milagrosa, talvez devêssemos investir em criar contextos onde as pessoas possam experimentar autonomia genuína, desenvolvimento de maestria e conexão com propósito. Isso raramente acontece apenas clicando "próximo episódio".

INSIGHTS

Pensa com o Daniel Luzzi:

Se fosse verdade que o nosso foco é pior do que o de um peixinho dourado (8 segundos), essa newsletter aqui sequer teria nascido. Então tenha atenção para não acreditar em qualquer coisa que te contam do alto de um palco ou por detrás d'uma tela.

Mais cuidado ainda para não basear toda a sua estratégia de educação corporativa em mitos e lendas que influenciadores educacionais andam espalhando irresponsavelmente por ai.

Cheque. Verifique. Valide. Teste. Acima de tudo, questione.

Q&A

Essa rubrica é muito especial sabe gente? Ela depende de vocês para existir. Funciona assim: vai ter sempre um link aqui  para vocês lerem com celulares e nos mandarem uma pergunta. Nós vamos receber as curiosidades e escrever respostas. Daí, trazemos para cá o que pensamos (e podemos marcar vocês ou deixá-los anônimos, vocês que escolhem).Legal né? Certamente a pergunta de vocês é dúvida de mais pessoas, então assim enriquecemos o ecossistema juntos, que tal?

https://forms.gle/YVN3uesmWFBSnhjH7

Até semana que vem!

———

Assine a Newsletter:

linkedin.com
Cognita T&D360 News

Vamos agendar uma conversa?

Conte-nos sobre seu desafio e entraremos em contato o mais breve possível.

Vamos agendar uma conversa?

Conte-nos sobre seu desafio e entraremos em contato o mais breve possível.

Vamos agendar uma conversa?

Conte-nos sobre seu desafio e entraremos em contato o mais breve possível.

Vamos agendar uma conversa?

Conte-nos sobre seu desafio e entraremos em contato o mais breve possível.

@ Cognita Learning Lab 2025

@ Cognita Learning Lab 2025

@ Cognita Learning Lab 2025