dluzziando
Vivendo em piloto automático.
A cognição preguiçosa na era da inovação.

Daniel Luzzi
·
11 de jun. de 2017




Estamos ficando cada dia mais confiantes, superconfiantes e praticamente cegos aos efeitos colaterais de nossa própria intuição.
A sociedade do conhecimento em rede que habitamos, caracterizada por uma inovação de tipo exponencial, exige que nos reinventemos permanentemente, no entanto, apesar dos discursos em prol da inovação, a mudança e a liderança, muitos profissionais vivem em piloto automático, tomando decisões com base em fatos escolhidos para confirmar a sua intuição.
Como se isso fosse pouco estas pessoas se cercam de outros profissionais que pensam de maneira parecida numa espécie de bolha e acabam achando que o mundo é como eles enxergam, e que quem não vê dessa forma está errado, ou tem um viés ideológico que o cega; um executivo de uma multinacional colocava estes dias no linkedin que os que pensavam diferente dele estavam enganados ou atrasados.
Isso limita seriamente a avaliação do cenário de uma maneira mais ampla na hora de tomar decisões. Estas pessoas não querem ouvir reflexões contrárias ao que pensam e num mundo cada vez mais complexo, onde a epistemologia da ciência já superou faz tempo o pensamento dicotômico de certo e errado trilhando o caminho da complementariedade metodológica, abraçando a diversidade, eles homogeneízam o mundo cometendo sempre os mesmos erros e culpando sempre aos outros.
Acontece que como já tinha identificado Bacon em 1620:
“O intelecto humano, quando assente em uma convicção (ou por já bem aceita e acreditada ou porque o agrada), tudo arrasta para seu apoio e acordo. E ainda que em maior número, não observa a força das instâncias contrárias, despreza-as, ou, recorrendo a distinções, põe-nas de parte e rejeita, não sem grande e pernicioso prejuízo”.
– Francis Bacon. Novum Organum
De nada adianta acreditar que a inovação vai vir da aplicação de novas técnicas de moda (por mais úteis que elas sejam), ou tecnologias de ponta, sem mudar a forma de pensar e de atuar de quem as aplica. É o que estas pessoas e organizações ainda não compreenderam:
1) Que a tecnologia (instrumento), é um meio e não um fim de um sistema de atividades humanas; um sistema que de modo algum é uma combinação mecânica de elementos, e sim um sistema composto de relações dinâmicas internas de interação e complementaridade. Relações tão únicas que só se dão na interação.

Um belo exemplo foi dado por Vygotsky sobre a compreensão da análise química da água, que é um composto de hidrogênio e oxigênio:
“O estudante que busque explicar, por exemplo, por que a água extingue o fogo, estudando primeiro os seus elementos separadamente, em vez de encontrar uma explicação, descobrirá que o hidrogênio é extremamente inflamável e que o oxigênio é um gás que alimenta o fogo. As propriedades do sistema se perdem quando ele é dividido em seus elementos e se separam os elementos da organização do todo"
2) A diferença entre significado e sentido, estes lindos conceitos que são usados o tempo todo, podem ter um significado universal bacana, mas o verdadeiro sentido é construído por quem os aplica na sua atividade cotidiana; e a aplicação se dá em função do contexto, das crenças, preconceitos e métodos de quem os aplica.
Por exemplo, incorporar tecnologia de ponta para modernizar a educação é muito necessário, mas usar novas tecnologias com os mesmos métodos do passado é um verdadeiro desperdiço, é mudar a forma sem mudar o fundo da questão, o sentido incorporado ao significado universal não permitirá uma verdadeira política de inovação.
No meu ponto de vista a maioria dos MOOCs que tive a oportunidade de analisar cometem esse erro, já que passamos o método de educação tradicional de um professor dando aula, a um conjunto de alunos isolados, desde uma perspectiva passiva, a uma nova mídia.
Significa, em definitiva, vestir a tradição de novas roupagens para não mudar.
3) A importância do contexto é fundamental, assisti uma apresentação de um professor sobre educação 3.0 mostrando um vídeo magnífico sobre as tecnologias de ponta utilizadas na Finlândia baseada em método de projetos em salas com 19 alunos; vamos lá, no nosso contexto quantas escolas teriam condições de aplicar o modelo de Phenomenon Learning da Finlândia? Pouquíssimas, certamente. Agora sem acesso a tais tecnologias de ponta seria impossível inovar? De forma alguma, afinal de contas uma verdadeira inovação incorpora, mas não se define pela tecnologia, e sim pelo uso que fazemos dela, ou seja pelos métodos que utilizamos.
Por mais tecnologia que apliquemos na educação sem considerar:
que diversas aproximações metodológicas servem para diferentes propósitos (superando os preconceitos condutivistas, cognitivistas e socioculturais);
que os métodos são conteúdos que definem as competências que os alunos vão a desenvolver;
que dada a quantidade de próteses culturais (tecnologias) existentes hoje, já não faz o menor sentido memorizar conteúdos para as avaliações, mas melhorar as nossas capacidades de interpretação e contextualização da informação;
que é urgente o desenvolvimento de conteúdos significativos, que façam sentido na vida dos alunos;
que o maior objetivo da educação é aprender a pensar e a amar
Assim, grandes empresas nacionais e internacionais e universidades que foram um rotundo sucesso em outras épocas vendo minguar seus negócios e as suas matriculas criam aplicativos, programas de startup e outras estratégias com os mesmos estilos de pensamento que levaram eles ao lugar onde se encontram. Ou pior, seguem a manada, fazendo o que todos fazem, em vez de refletir criticamente, inovar e se diferenciar.
Dessa forma, nosso principal diferencial de inovação que é a cognição se dilui. São casos típicos do pensamento preguiçoso definido pelo psicólogo e prêmio Nobel Daniel Kahneman, para quem as pessoas tendem a ignorar fatos, dados e eventos que obriguem o cérebro a um esforço adicional.
Possivelmente seja essa a origem da pós verdade que tanto se fala.
Segundo a revista The Economist, o mundo contemporâneo está substituindo os fatos por indícios, percepções por convicções, distorções por vieses.
Estamos saindo da dicotomia tradicional entre certo ou errado, bom ou mau, justo ou injusto, fatos ou versões, verdade ou mentira para ingressarmos numa era de terminologias vagas ou juízos baseados mais em sensações do que em evidências.
Tenho conhecido exemplos incríveis, como o de uma cidade que investiu 10 milhões de reais para fazer o plano diretor participativo digital, e que celebrou a participação de mil pessoas - sim, mil pessoas - em um universo de 400 mil, por ter conseguido um aumento de 32 vezes o número de participantes, sem enxergar que o custo de mil reais por pessoa era um verdadeiro despropósito.
Ou uma grande empresa que, seguindo os ditados das técnicas mais modernas, fez um aplicativo de 2 milhões de reais para “passar” seu negócio ao mundo digital sem considerar que no mundo digital seu negocio perdeu sentido de ser, e que o que necessitava era se reinventar.
Esses são exemplos drásticos do que falamos, existem outros que não são perceptíveis como o dinheiro que se perde pela falta de sinergia entre as diversas linhas de negócios de uma organização. Um verdadeiro clássico da literatura organizacional.
Realmente nesses contextos realizar inovações é o mesmo que jogar a loteria com o dinheiro dos acionistas ou dos cidadãos, podendo se investir milhões sem alcançar os resultados buscados.
Acontece que temos muitos seminários sobre design thinking, motivação, liderança, e-learning, m-learning, gamification, simulações, educação 3.0, indústria 4.0, inovação e escassos encontros sobre estilos de pensamento, complexidade e dinâmicas organizacionais com métodos expansivos de aprendizagem que analisem os contextos de implantação para adequar as inovações às nossas práticas para dota-las de sentido.
Amigos, lamento se decepciono vocês com as minhas palavras, mas chega de soluções mágicas, por favor! Uma palestra, um curso, um artigo, um seminário ou uma nova tecnologia não vai mudar a sua organização; se não saímos da nossa zona de conforto, chamada de sistema S1 por Kahneman, que atua por instinto natural ou intuição e nos debruçamos de verdade com o sistema S2 ou pensamento lógico – reflexivo.
Estamos fazendo design thinking e workshops de inovação com pessoas que, em geral não aprenderam a pensar criticamente, ou seja a:
pensar sobre o próprio pensamento, questionando o que achamos que sabemos;
distinguir os fatos relevantes dos irrelevantes;
reconhecer contradições;
comparar situações análogas: transferir insights para novos contextos, um dos principais indicadores de verdadeiro aprendizado;
desenvolver sua própria perspectiva: criar ou explorar crenças, argumentos ou teorias;
avaliar a credibilidade das fontes de informação;
questionar profundamente: levantar e buscar as raízes ou questões significantes;
ler criticamente, buscar as suas fontes, identificar os dados apresentados a partir dos contextos de origem;
aprender a ouvir criticamente;
raciocinar dialógicamente: comparar perspectivas, interpretações ou teorias.
Sei que o esforço cognitivo de fato é extenuante e tedioso, mas num mundo no qual as coisas já não são obviamente verdadeiras ou falsas, pensar criticamente exige que não nos deixemos enganar e frustrar facilmente pela ideia de que a verdade pode e deve ser apurada simples e facilmente, pois podemos descobrir que existem muito mais perguntas do que respostas.
Por esse motivo uma das maiores inovações da educação e da gestão de projetos nas organizações seria passar da pedagogia da resposta a pedagogia da pergunta e da construção solitária a construção coletiva.
Grande abraço!
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