Vivemos num mundo em que inovação, automação e convergência digital estão promovendo uma verdadeira revolução de habilidades humanas como criatividade, originalidade e iniciativa, pensamento crítico, persuasão e negociação, assim como resiliência, flexibilidade e resolução de problemas complexos, entre outras.
Nesse contexto estão proliferando as atividades formativas de aprimoramento de líderes, profissionais e colaboradores para tentar fechar a brecha de habilidades emergentes que o mercado demanda para lidar com a mudança em andamento.
No entanto, em grande parte só temos conseguido nos apropriar das palavras e não do que elas significam:
Seguimos amarrados ao pensamento dicotômico, que vê o mundo em branco e preto, simplificando a riqueza e a dinâmica da realidade em dualidades (verdadeiro ou falso, esquerda ou direita, tudo ou nada); externando a polarização do mundo e das organizações em processos de incomunicação paralisante.
Num momento histórico em que o conhecimento cresce a partir da fusão tecnológica que emerge da colisão dos mundos físico, digital e biológico, criando cenários de projeção futura cada vez mais sofisticados, deixamos que nossas crenças determinem o que vemos e pensamos, evidenciando uma enorme incapacidade de rever nossos mais básicos modelos de entender e atuar no mundo, (Sense-Making) componente essencial para a mudança.
Assim como quando algo da errado, continuamos buscando culpáveis, sem entender o sistema adaptativo do qual somos parte, composto de seres humanos interdependentes numa organização dinâmica e viva, na qual a maioria dos problemas e das oportunidades de melhoria pertencem ao sistema e não as suas partes.
Ou ainda quando insistimos em seguir receitas de sucesso de profissionais ou organizações mecanicamente, ignorando a complexidade dinâmica e temporal, onde os efeitos retardados são comuns, e as causas e os efeitos não são necessariamente próximos no tempo e no espaço. E, os padrões emergentes (inesperados) que surgem espontaneamente do comportamento das partes alterando o todo.
As mudanças em andamento são muito mais profundas do que imaginamos e mexem com o mais íntimo de nós mesmos, nossa capacidade de observar, interpretar e entender o mundo que vivemos. Não é só uma questão de desenvolver novas habilidades técnicas mas de mudar a base mesma da construção de conhecimento.
Como evoluir sem desaprender?
Como crescer sem questionar e deixar de lado opiniões e modos obsoletos?
Possivelmente, a incapacidade em avaliar nosso próprio conhecimento e em reconhecer o talento e boas ideias dos outros, gostemos ou não deles, seja causa de muitos dos males da sociedade, incluindo a negação das alterações climáticas; a morte de centos de crianças por seus pais não terem aplicado uma simples vacina; ou a quebra da sua empresa por não ter se atrevido a pensar diferente.
O exercício do autoconhecimento, característica essencial da agilidade de aprendizagem na minha opinião, constitui-se como uma das habilidades mais importantes para aprender a partir de novas experiências, de maneira rápida e contínua.
Mas nunca devemos esquecer que podemos ignorar o que ignoramos, ficando reféns do pouco que sabemos; nesse caso sempre é bom parar de falar e abrir bem os ouvidos.
(Artigo publicado originalmente em 20 de fevereiro de 2020 no Linkedin)